MDB conta com ala bolsonarista para apoiar Tebet e neutralizar Lula
Mesmo com a investida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para cima do MDB nos últimos dias, o presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, mantém a convicção de que a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) será homologada na convenção nacional marcada para o próximo dia 27. Para isso, o dirigente conta com o aval da ala mais bolsonarista do partido, que prefere a senadora a apoiar Lula logo no primeiro turno.
Não à toa dirigentes do MDB que são simpáticos ao atual governo assinaram um manifesto de apoio a Tebet no dia seguinte ao encontro de Lula com caciques emedebistas do Norte e Nordeste. O grupo inclui o presidente do MDB do Distrito Federal, Rafael Prudente, que já se posicionou favorável a um palanque duplo com Tebet e Jair Bolsonaro; o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), ex-líder da bancada ruralista e que articulou o movimento antipetista dentro do MDB; e o presidente do diretório de Roraima, Romero Jucá, que no seu estado construiu uma aliança com o PL, partido do presidente.
A ala do MDB pró-Lula tentou angariar o apoio do ex-presidente Michel Temer. Ele chegou a defender o adiamento da convenção nacional, mas prevaleceu a movimentação de Baleia e dos dirigentes do PSDB e Cidadania, que formam a aliança nacional em torno de Tebet. O movimento limita o tempo de articulação dos lulistas do partido.
Decano do MDB, Pedro Simon pontua que a candidatura própria tem potencial de “roubar” votos tanto de Lula quanto de Bolsonaro e critica as tentativas de boicotar a candidatura de Tebet dentro do próprio partido:
“São essas pessoas que impediram o MDB de chegar ao poder. Evitando demonstrar que a divisão no partido era um sinal de fragilidade, os aliados de Tebet passaram a dizer que o movimento de Lula evidenciava o potencial de crescimento dela na corrida eleitoral.
“É um sinal positivo de que eles se preocupam com o crescimento de Simone. Ninguém chuta cachorro morto”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire.
O MDB é o único partido com presidenciável a fazer uma convenção online, defendida pelos menores custos e ambiente controlado, menos propício a manifestação de oposicionistas. Essa é a estratégia visualizada pelo professor da FGV Carlos Pereira:
“Dado que existe muita tensão no partido, fazer a convenção presencial seria um palco de exposição dessa divergência”.
A movimentação interna não é sinal de rejeição ao nome de Tebet, mas revela uma preocupação com as consequências da decisão de bancar a candidatura própria. Um cacique do partido disse, reservadamente ao GLOBO, que o MDB sempre teve sua força associada ao tamanho — quantidade de prefeitos, vereadores e, acima de tudo, as bancadas no Congresso.
Partido encolhido
O problema é que o partido vem sofrendo com o encolhimento do número de deputados e senadores, o que estaria parcialmente relacionado à insistência na candidatura própria em 2018. Na Câmara, o MDB encolheu de 65 deputados eleitos em 2014 para 34 eleitos em 2018 — neste momento, a bancada tem 37 deputados. No Senado, dos 19 parlamentares em 2015, o MDB passou a 12.
Para Carlos Pereira, da FGV, essa é uma ambivalência eterna do MDB, que tem dúvida se trilha a trajetória majoritária ou foca no legislativo. A atual polarização é um espelho dessa história.
“Tem lideranças que observam que o MDB pode ganhar mais sem uma candidatura própria, ficando disponíveis para apoiar qualquer governo, versus a estratégia de lançar candidato próprio e não ser vencedor. A candidatura da Simone é sem volta, mesmo que setores do partido venham a boicotá-la. Ela está com 3% de intenção (de voto), quase oito milhões de eleitores”, avalia Pereira.
A exposição e a composição dos palanques regionais explicam a polarização entre Bolsonaro e Lula, que pode trazer mais visibilidade em contraponto a uma candidata que ainda derrapa nas pesquisas.
A busca por mais espaço em palanques também reflete as mudanças na legislação eleitoral. Sem coligações e com a criação de federações, o número de partidos políticos representados no Congresso deve ser reduzido.
Eleger mais parlamentares vai ser fundamental para garantir a própria sobrevivência da sigla, e a disputa maior será na Câmara. Uma projeção da Action Relgov, elaborada a pedido da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), estima que o MDB alcançaria o quociente eleitoral em 14 estados – do total de 33 partidos, ao menos dez siglas não atingiriam essa meta.
Em entrevista ao podcast “Flow”, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que “o Brasil é o país com menos sofreu com a Covid-19” logo no início da conversa. Hoje, o país ultrapassa o número de 680 mil mortes por conta do coronavírus. O candidato à Presidência também questionou a imunização contra a doença e voltou a defender os medicamentos ineficazes.
O mandatário ainda admitiu ter recebido orientações para evitar o assunto para perder eleitores, mas disse não se importar e que prefere dizer “a verdade”, segundo ele.
Apesar da fala de Bolsonaro, pesquisas mostram a queda no número de mortes acompanham o avanço da vacinação. Ele ainda disse que preferiu não se vacinar contra a Covid-19, embora tenha imposto sigilo de cem anos em sua carteira de vacinação.
“O pessoal me recomenda: ‘não toque nesse assunto’. Poxa, eu tenho que valar a verdade para o pessoal. Não quer votar mais em mim, lamento, né, posso fazer o quê? Eu tenho que falar a verdade”, disse o presidente.
Enquanto Bolsonaro falava sobre a questão da pandemia durante a entrevista, o programa exibido pela plataforma Youtube, destacava na legenda: “Lembre-se de pesquisar tudo o que foi dito neste programa”.
“Eu não tomei vacina. Me recomendaram até a tomar uma água destilada. Eu não vou. Posso enganar a você, mas não vou enganar a mim. Influencia alguns (a não tomar a vacina). Não é que a minha palavra tá valendo, eles foram ler a bula”, disse.
Bolsonaro citou estudos de Israel que apontam a perda de eficácia da vacina da Pfizer. Entretanto, a aplicação da quarta dose para adultos acima de 40 anos, imunossuprimidos e profissionais de saúde quatro meses após a terceira dose, é recomendada pelo Ministério da Saúde.
Apesar das críticas, Bolsonaro disse que as doses de vacina contra o coronavírus seguirão sendo disponibilizadas:
“Tem gente que quer tomar a terceira, quarta dose. Sem problema nenhum, enquanto quiser tomar, vamos dar a vacina. Agora, respeite quem não quer tomar a vacina”, disse.
Ademais, o presidente voltou a defender medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, como a hidroxicloroquina.
“Eu acho que deviam tomar. Eu tomei e fiquei bem, 90% tomaram e tão bem”.
Bolsonaro ainda diz que a “liberdade médica” foi cassada durante a pandemia.
“O meu ministro da saúde, o tal do Mandetta, ele fez um protocolo e quem tava com Covid ia pra casa e quando sentia falta de ar, ia para o hospital. Aí eu falei ‘ vai pro hospital fazer o que? Ser intubado?’. Por que você não garante a liberdade do médico de clinicar seu paciente? Porque o médico sabe disso. Se chega alguém que tá passando mal que pode morrer, ele pode receitar alguma coisa em comum acordo com o paciente ou com a família”.
O Chefe do Estado também comentou sobre a questão do contrato da Pfizer ter chegado no Brasil e ele não ter aceitado prontamente, questão tratada durante a CPI da Covid, onde foi divulgado que 101 e-mails com ofertas de venda e reforço da disponibilidade das doses foram ignorados pelo governo brasileiro, o que poderia ter adiantado o início da vacinação no Brasil.
Bolsonaro justificou que a oferta chegou em maio de 2020 e não aceitou, pois, segundo ele, a farmacêutica não se responsabilizava pelos efeitos colaterais.
“Me acusam de não ter comprado vacina. Li o contrato da Pfizer e tava escrito: “Não nos responsabilizamos pelos efeitos colaterais”. Falei não, pô”.
Antes de estar disponível para o cidadão, qualquer vacina ou medicamento passa primeiramente pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A agência avalia os estudos de eficácia da vacina, ou seja, quanto que ela funciona, e os estudos de segurança, isto é, as reações adversas, efeitos colaterais e problemas observados nas pessoas que se vacinaram. Ou seja, é verdade que as empresas não se responsabilizam pelos possíveis efeitos colaterais, mas ela dispõe de dados, resultados e acompanhamentos para que uma agência de saúde possa aprovar ou não um imunizante com segurança. Se aprovado, é porque a vacina tem sua segurança cientificamente comprovada.