O plano do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de ter o DEM como um dos sócios principais em seu projeto presidencial para 2022 sofreu um abalo com a crise gerada dentro do possível aliado por causa da eleição para a presidência da Câmara.
Políticos próximos ao tucano avaliam que o episódio mostrou que o cenário é incerto e o DEM só decidirá o seu caminho na disputa pelo Palácio do Planalto quando as chances de vitória dos nomes colocados estiverem mais claras. Parte dos correligionários de Doria reconhece que não pode ser descartada a possibilidade dos democratas apoiarem a reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
O embate entre o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, presidente da legenda, também deixou explícita a divisão interna no DEM.
Na estratégia definida por Doria, o apoio do DEM ao seu projeto presidencial seria amarrado com a adesão do PSDB à candidatura de seu vice, Rodrigo Garcia, ao governo paulista em 2022. Aliados do governador apostam na força de Garcia no DEM para consolidar um acordo. O vice é o principal nome do partido em São Paulo, onde os democratas governam 66 cidades.
Há um movimento nos bastidores para levar Garcia ao PSDB. Seria uma solução para que o partido mantenha a cabeça de chapa e não corra o risco de perder o governo do estado mais rico do país, comandado pelos tucanos de forma quase ininterrupta há 25 anos.
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Se for levado em consideração, porém, o projeto de Doria, a movimentação não seria um bom negócio. Um político próximo ao governador entende que, se Garcia debandar, e Maia o seguir —nesta semana o deputado ameaçou mudar de legenda após se desentender com ACM Neto —, o DEM se aproximará de vez do bolsonarismo e qualquer possibilidade de aliança com o PSDB estará descartada.
Mas se a eleição para a presidência da Câmara deixou mais complicada a aproximação com o DEM, por outro lado, o episódio serviu para estreitar laços de Doria com o MDB, na avaliação de aliados do governador. O entendimento é que ficou claro o esforço do tucano para conter o desembarque de deputados do PSDB da candidatura de Baleia Rossi, mesmo quando a derrota do emedebista já estava clara.
O primeiro gesto para atrair o MDB havia sido feito no ano passado, com a escolha de Ricardo Nunes para ser o vice na chapa do prefeito Bruno Covas (PSDB), que acabou reeleito.
Parte dos aliados de Doria também minimizam a derrota na eleição da Câmara e avaliam que é preciso cautela para analisar o episódio. Eles acreditam que o governo deve ter dificuldades de aprovar reformas com Lira. Também preveem atritos com deputados em razão do apetite do centrão e da falta de recursos no orçamento em meio à pandemia.
Em contrapartida, acreditam que a vacina CoronaVac deve ajudar a pavimentar a candidatura de Doria em 2022 e viabilizar, no estado, uma retomada econômica mais rápida que no conjunto do país.
Os nomes mais fortes para assumir o órgão colegiado são os dos deputados Carlos Jordy (RJ) e Aline Sleutjes (PR). Os dois são da ala bolsonarista do PSL e têm forte apelo nos posicionamentos ideológicas de apreço do governo Jair Bolsonaro (sem partido), sendo alguns dos principais aliados do presidente na Câmara .
Sleutjes ainda é investigada no inquérito que apura financiamento a atos antidemocráticos, que é conduzido sob relatoria do ministro Alexandre de Moares, do Supremo Tribunal Federal (STF). A definição é prevista para os próximos dias.
Desde o início das negociações, o grupo bolsonarista da legenda manteve como alvo principal a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada a mais importante da Câmara. Já é quase certo que a CCJ fica com a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), também investigada no inquérito que apura atos antidemocráticos e no das fake news.
No caso da Comissão de Educação, no entanto, ela também é considerada estratégica para o grupo. Assim como Bolsonaro, seus apoiadores veem o tema como o campo de batalha para pautas ideológicas no governo, que guarda pouca conexão com os problemas reais do Brasil.
O objetivo da conquista do comando da comissão seria a suposta proeminência da esquerda no setor e o fortalecimento de pautas de fundo religioso.
Nas últimas semanas, a comissão de Educação chegou a ser prometida para o DEM durante negociações tocadas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A legenda ainda mantém articulação para ficar com o colegiado.